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quinta-feira, 29 de março de 2012

O Pássaro com o Bico de Tesoura

1ª cena
VÓ – Arrelá meu Deus fazeis com que minha filha tenha
bom parto, tô sentindo um nó por dentro de mim.
MÃE CARMIRA – Manhê! Manhê! Tô sentino uma
pontada na escadera, será que minha criança nasce hoje?
PAI – Escutai Carmira, eu bô subi o morro do baepi prá mata
uma caça, faz dias que não temo mistura.
MÃE – Bidico não ide, não tô me sentino
bem, minha escadera tá muito duida, acho que bosso filho bai nascê hoje.
VÓ – Bidico não precisa de caça, eu faço um angú de farinha
e pego no terrero um punhado de coentro do mato, bai ficá uma dilíça.
PAI – Não, tô desde anteonte me preparano pra subi o
morro, pois agora eu bô, amanhã cedo eu tô de Borta. (sai de cena)
MÃE – Mãe tô cum pressentimento estranho
cum Bidico, tô ficano tão nerbosa.
VÓ – Bois não podeis ficá nerbosa co a barriga
destamanho. (Entram pra casa).
2ª cena
(Tonha e
Carmira sentadas no banco na frente da casa).
MÃE – Mãe minha criança bai nascê sem pai, já fazem dois
meses que Bidico desapareceu na mata, arrelá será que foi cobra ou uma
jaguatirica que matô bidico.
VÓ – Não se sabe minha filha, não ficais pensano nisso
agora, cada um debe tê um distino nessa bida de Deus.
MÃE – Ai manhê, tô sintino uma dô fina pelas costa
intirinhazinha, parece que tô mijano, pois tá escorrendo água pelas minhas
perna.
VÓ – Arrelá minha filha bosso filho bai nascê, bamo logo
entrá pra dentro de casa. (leva a filha pelo braço).
(a criança
nasce e Carmira morre).
VÓ – Ho meu Deus que distino horríbel, arrelá! Minha filha
morreu, porque tirasse minha filha desse mundo, agora só resta eu e meu neto.
(chorando, entra em casa).
FREIRA – Os anos passam o menino cresce,
Dona Tonha coloca o nome nele do abô, Pedro.
3ªcena
(O menino
brincando de pega- pega com seus amiguinhos)
- O menino tropeça
e cai. (eles brigam)
PEDRO – Seu desgraçado, que a desgraça te
carregue pros quinto dos infernos, seu porco chifrudo (e foi embora).
AMIGO – Pedro, eu não tibe culpa, bocê caiu,
bolta aqui.
PEDRO – (indo embora) – Desgraçadooo...
AMIGOS - (saem do palco) – Boçê biu que
estranho Pedro é?
- Ele só
xinga aquele nome seco.
- Ele tá
muito deferente, parece que bai acontecê alguma coisa com a bida dele. Deus que
me libre!
NOME SECO – (dando gargalhada) nunca mais
essas crianças bão se librá de mim, aonde esse tal de Pedro fô eu bô atrás,
hááá bô pirsigui até o fim... (sai de cena).
PEDRO – (volta ao palco chorando) Foi por
causa de tonico que eu caí, aquele desgraçado, ele bai bê só, ainda arranco
sangue da cara dele, menino desgraçado. (dando soco no chão).
FREIRA – Pedro o que aconteceu? Porque
estais chorando?
PEDRO – Porque a desgraça do Tonico me
aderrubô, aí eu cai e machuco a desgraça do joelho. Não estais bendo a sanguera?
FREIRA – Pedro bocê xinga muito esse nome
seco. “Desgraça” significa não ter a graça de Deus. Quem chama muito esse nome
se acava na miséra, bois não sabeis disso?
PEDRO – Oquá irmã,isso não é berdade. (sai
de cena).
FREIRA – Meu jisus cristo tomai conta dessa
criança, cubra a caveça desse menino co vosso manto. (saíndo de cena).
4ªcena
VÓ TONHA – Pedro! Pedrooo! Bem almoçá. Arrelá
minha santa piligrina dadonde será que esse menino se meteu... Morro de medo de
pedro andá poraí poressa mata xingando aquele nome seco. Pedro! Pedroooo!
(saindo de cena).
PEDRO – Essa minha bó é uma desgraça, bibi
atrás de mim, que bida desgraçada. (passando pelo palco).
NOME SECO – (dando gargalhadas) Hoje bois não
me escapais, bô arrumá um jeito de te pegá e bai se hoje. (indo atrás do
Pedro).
(aparece
Pedro e a vó comendo)
PEDRO – Bó, bou brincá de bolinha de gude
com meus amiguinhos.
VÓ – Pedro, meu filho, brinque em paz, não me brigue co
seus amigo e pelo amô de Deus não me xingue mais aquele nome seco, porque quem
chama muito, ele bem pegá, desde criança minha mãe já falaba isso, tais me
oubindo? Há! Tais me oubindo? Hem!
PEDRO – Há! Bô não enche o saco. (pega sua
bolsinha de pano e sai do palco).
VÓ – Meu jisus menino tome conta do Pedro. O meu medo é
que um dia esse nome seco benha e lebe o Pedro embora desse mundo.

5ªcena
(os meninos
brincando de bolinha de gude)
AMIGO – Pedro, bocê está errado, é a minha
bez de jogar, sempre só boçê tá certo.
PEDRO – (dá um tapa no rosto do amigo, o
amigo cai e começa a chorar)
- Seu
mardiçoado, desgraçado, bocê sabe que estou sempre certo. Um dia ainda hei de
bê a desgraça te carregá para o fim do mundo... (nesse momento chega um pássaro
enorme e começa a atacar o menino).
PÁSSARO – Bocê sempre me chama,então eu bim
te buscá.
PEDRO – Socorro, socorro, alguém me
ajuda!!!
AMIGOS – Que chero horríbel, chero de coisa
podre.
- É o
pássaro que tá soltano esse chero.
- Bamos
embora daqui (os amigos saem correndo).
(Pedro sai
de cena desesperado e o pássaro atrás a perseguir)
AMIGO – Dona Tonha! Dona Tonha!
VÓ – O que quereis crianças, aconteceu alguma coisa com
meu neto?
AMIGO – Dona Tonha estábamos brincano na
baixada quando apareceu um pássaro muito estranho com um bico de tisora e
começo a ataca o Pedro.
- O bicho
soltaba um chero muito podre demais.
VÓ – Ai minha birge maria é o nome seco que beio pegar o
meu neto.
(corre
dentro da casa e pega o terço e desce o morro correndo, quando chega à baixada
encontra o pássaro perseguindo o seu neto, então se ajoelha e começa a rezar).
VÓ – Meu Deus ajudai meu neto, ele está nas bosas mão,
não deixais que o nome seco consuma co meu neto. Ave Maria cheia de graça...
PÁSSARO – Calais bossa voca, belha miserábel,
tais pensano que essa rezinha bai adiantá alguma coisa? Há! Há! Há! Há! Essa
criança bibe me chamano, agora ela será só minha. Há! Há! Há! Há! (o pássaro
pega o menino e desaparece por trás das montanhas, Dona Tonha rezando sem parar
corre atrás do pássaro e tenta pegar o seu neto).
VÓ – Debolba meu neto em nome do sangue de Jisus. (chorando).
6ª cena
(a dona
tonha desesperada corre atrás do capitão do mato, o senhor Nicolau).
VÓ – Cadele Nicolauê ele taba aqui, aiaiai, me disseram
que Nicolauê taba aqui na pedra do bentibi.
NOME SECO – Não adianta belha Tonha, o que
achais que Nicolauê bai fazê? Nunca Nicolauê bai consegui acha bosso neto.
VÓ – Ai! Que arrepio no meu corpo intirinhozinho, ai
Jisus corre por dentro de mim, que bois é essa? Que bois amardiçoada? Nicolauê!
Nicolauê!
CAPITÃO DO MATO – Dona Tonha, o que aconteceuê?
VÓ – Sabeis meu neto Pedro, xingô tanto o nome seco que
um pássaro enorme, fidido, com catinga de enxofre e com bico de tisora
beio e lebô meu menino embora.
CAPITÃO DO MATO – Quando Dona Tonha, arrelá, quando
isso aconteceuê?
VÓ – Hoje, logo adepois do armoço, era mais ou menos uma
hora da tarde. Achais meu neto seu Nicolauê eu bós improro. O pássaro lebou meu
neto pra mata, boou por detrás do Baepi.
CAPITÃO DO MATO – Carmai Dona Tonha, bou fazê o
possíbel pra achá bosso neto. (a vó sai do palco chorando).
CAPITÃO DO MATO – Que coisa incríbel, o nome seco lebou
o menino Pedro pra mata birge.
7ªcena
(Tonha
passando pelo caminho da pedra grande encontra com Nicolau)
VÓ – Seu Nicolauê, não tens nobidade de meu neto, já se
passaram quarenta dias...
CAPITÃO DO MATO – Dona Tonha, tá difícil, não
conseguimo encontrá nada, nem um rastro desse tal pássaro co bico de tisora,
não é fácil encontrá algo que o coisa runhê escondeu.
VÓ – Seu Nicolauê, à de haber um jeitinho de encontrá
meu neto, rezo todo dia, continuai a busca que Deus bai iluminá bosso caminho.
(saem de cena).
8ªcena
(na casa de
Dona Tonha)
CAPITÃO DO MATO – Dona Tonha! Dona Tonha!
VÓ – Arrelá seu Nicolauê encontrasse meu neto?
CAPITÃO DO MATO – Dona Tonha até que não demorô
tanto, dois meses de busca, encontramo bosso neto.
VÓ – Deus atendeu a minha prece. (ajoelha) Obrigado
senhô, Minha gratidãoê é muito grande demais. (faz o sinal da cruz).
CAPITÃO DO MATO - Dona Tonha bosso neto se encontra numa gruta
cheia de espinho, não há jeito de tirá ele de lá, a gruta é profunda demais.
VÓ – Como meu neto tá seu Nicolauê.
CAPITÃO DO MATO – Muito magro, cheio de firida pelo
corpo e fede como se fosse carniça, nem se move só bejo sua lágrima escorrendo
pela cara.
VÓ – Deus me ajudô a encontrá, pois bai me ajudá a tirá
dessa gruta amardiçoada. Bamos chamá a irmã Maria. (saem do palco).
9ªcena
(a vó,
capitão do mato e a freira na gruta).
FREIRA – (joga água benta), em nome do pai,
do filho e do espírito santo amém, que Deus coloque sobre bosso corpo o seu
manto sagrado.
VÓ – Nada acontece irmã, o que bamo fazê? (aparece o
pássaro em cima da gruta).
PÁSSARO – (dando gargalhada) Nada que bocês
fizerem bai dá jeito, essa criança bai sê minha pra sempre, quem mandô ele me
chamá tanto, ele me ama, pois agora a desgraça bai fazê parte da bida dele. Há!
Há! Há! Há!
FREIRA – (joga água benta no pássaro) sais
daqui em nome de Deus (o pássaro desaparece por trás da gruta) Dona Tonha a
única pessoa que irá consigui tirá bosso neto do fundo dessa toca é a madrinha
dele, ela tem de trazê a toalha que ela enxugô a caveça da criança na hora do
batismo.
VÓ – Bamos embora chamá a Dona Ritinha, Bamos seu
Nicolauê, a Dona Ritinha mora longe, mora lá em Santo.
10ªcena
(D. Ritinha,
vó, freira, C. do mato na gruta).
(A madrinha chega
à toca estende os braços e o menino da um salto no colo da madrinha).
MADRINHA – Graças a Deus, conseguimo tirá o
Pedro desta toca.
VÓ – Meu neto, Deus é maiô.
FREIRA – Nossa! Que chero de enchofre que
esse menino tá.
CAPITÃO DO MATO – É o chero do coisa runhê. (todos
fazem o sinal da cruz e fecha a cortina).
FREIRA – (abre a cortina) A madrinha lebou
o menino para casa de Tonha e cuidô , curô suas firida, deu cumida , deu
banho...
Depois dessa
experiênça o Pedro mudo compretamente.
Nunca mais
brigô com seus amigos lebou o estudo a séro, passô a obedecê sua bô, sua
professora, comprendeu que sendo educado e amoroso com as pessoa sua bida seria
marabilhosa.

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