POR ADRIANO LEITE
Em Ilhabela, Temos a expressão “abamo fazê um reisado este
ano”, com a significação de “vamos organizar um grupo de Reis”.
Conhecida como Folia ou Terno, é uma manifestação folclórica
do ciclo natalino de origem portuguesa, vinda dos Açores em (1748-1756), o
destino dos portugueses era Santa Catarina onde desembarcavam na ilha que é
hoje Florianópolis ficando na cidade de desterro. Outros foram levados a fundar
a freguesia de Nossa Senhora da Conceição da Lagoa e Nossa Senhora das
Necessidades ao norte e distrito de Ribeirão do Sul e fundaram Porto Alegre.
Deixaram suas marcas em Santa Catarina: a Festa do Divino,
Cantiga de Saudade, Despedida, Canto de Trabalho, Cantos Reis, Desafios, Cirandas
e Cantos Religiosos.
Provavelmente veio para Ilhabela através dos pescadores de
Santa Catarina.
A Folia de Reis de Ilhabela sempre foi cantada de 20 de
novembro a 06 de janeiro e divergem das Folias de Reis apresentadas em outros
Estados. Aqui eles nunca usaram trajes característicos, não carregavam
bandeiras e não tinham palhaços, que são aqueles que brincam, dançam e fazem
acrobacias em quanto a Folia era cantada.
Em Ilhabela tratava-se de um grupo de instrumentistas e
cantadores, que durante a noite, costumava entoar de porta em porta, nos seus
cantos, versos relativos à visita dos Reis Magos ao Menino Jesus e inclusive, à
Paixão de Cristo. Iam à busca de ofertas que são usufruídas pelos participantes
e as quais podem se resumir num simples café, os donativos que ganhavam tinham
incumbência certa para a realização da Festa dos Santos Reis, dia 06 de
janeiro. Recebiam ofertas em dinheiro ou aves, peixes, porcos que eram
leiloados no dia da festa.
Tomavam parte da Folia só homens não impedindo, entretanto,
que as mulheres os acompanhassem. Seus instrumentos eram: rabeca ou violino,
viola, cavaquinho, triângulo, sinete ou garrafa percutida com um ferro, adufe ou
pandeiro, caixa ou tambor e nos últimos anos da Folia foi introduzido a gaita.
Sempre houve uma voz aguda, em falsete que terminava os
versos, conhecida pelo nome de triple, tripé ou tipe.
Nos dias de hoje não encontramos mais esses grupos de Folia
de Reis, até a década de 80 Ilhabela tinha Folia na Armação, Praia Grande,
Barra Velha, Serraria, Vila, Saco da Capela e Perequê. Hoje em dia somente o
Grupo Raízes de Ilhabela nos dá o prazer de relembrar em apresentações
especiais um pouco dessa tradição tão emocionante de se ver, de se ouvir...
Os tocadores se dirigiam de madrugada, em silêncio até a
porta principal da casa e entoavam versos que começavam assim:
“Oh vós que estais dormindo
Este sono tão profundo
Acordai e vinde ver
A maravilha do mundo”
Então acordávamos com a cantoria e esperávamos cantarem todos
os versos até o final para podermos abrir a porta:
“Não quero que nos dê nada
Nem coisa de mais valia
Quero que nos abra a porta
E nos mostre alegria”
CANTADA PELO GRUPO DO DIORANDE, SACO DA
CAPELA, COLHIDA EM 1972.
O nosso amor
É por Jesus
Por nossa causa
Morreu na cruz Ô ô ô
Os anjos São Gabriel
Que vieram do senhô
Abriram os seus braços
Com alegria e amô
Entrai nossos pastores, entrai.
Por este portão sagrado
Venham ver a Jesus cristo
No seu bercinho deitado
A choupana era pequena
Não cabia os três Reis
Entraram se ajoelhando
Cada um por sua vez
O sacrário está aberto
O menino está lá dentro
Nos viemo arrecebê
O bendito sacramento
São João, São Joaquim.
E também a Virgem Santa
Nos mandai abrir a porta
Daí um Reis a quem vos canta
Os anjos tocam o cálice
Para a missa consagrá
Também agora senhores
Nos queremos arretirá
Depois de cada estrofe cantam:
O nosso amor
É por Jesus
Por nossa causa
Morreu na cruz Ô ô ô
(Reis- ajutório)
Texto: Prof. Adriano Leitte
Foto: Edinir Cézar
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